Nunes: “Eu não teria condições de administrar a CBB sozinho. Precisamos de integração nacional”
Publicado por Adriano Albuquerque
O atual presidente da Federação Gaúcha de Basketball e candidato à presidência da Confederação Brasileira de Basketball, Carlos Nunes, recebeu o BasketBrasil na última segunda-feira (13/4) para uma entrevista exclusiva acerca de sua candidatura. Carlinhos, como é popularmente conhecido no meio basqueteiro, apresentou um discurso de profissionalização e união do basquete, e disse que trará os ídolos do basquete brasileiro, como Hortência, Paula e os campeões mundiais de 1959 e 63, para colaborarem com sua administração, caso seja eleito no dia 4 de maio de 2009. Dentro dessa união, Nunes afirmou também que apoiará a ABASU, comandada por seu adversário na eleição e ex-aliado, Gerasime “Grego” Bozikis.
Além disso, o candidato deu sua explicação para a denúncia do Prof Carlos Alex Soares, no site Draft Brasil, de irregularidades na convocação de uma assembleia geral para o adiamento das eleições na Federação Gaúcha. Nunes, que está no comando da FGB há 15 anos, garantiu que na CBB quer implementar apenas uma reeleição, e a necessidade de eleição para o vice-presidente; declarou apoio total à Liga Nacional de Basquete e à organização do basquete brasileiro em ligas; assegurou que os atuais técnicos das Seleções adultas, Moncho Monsalve e Paulo Bassul, seguem nos respectivos postos neste ano; e contou ter fechado já com 14 federações para a eleição, número que ele espera que chegue a 18.
Confira a íntegra da entrevista:
BASKETBRASIL: Quais são os principais problemas que você identifica no basquete brasileiro atualmente?
CARLOS NUNES: O principal problema que nós temos hoje é a credibilidade do basquete perante os apoiadores. Nós temos o apoio da Eletrobrás, mas não é o suficiente. Para o trabalho de base que a gente está se propondo, precisamos procurar outros parceiros. Na verdade, nós não temos um produto hoje em dia, ele está em baixa. Nós estamos perdendo para vôlei, futsal, até para o handebol. Nós estamos propondo fazer um grande simpósio com todos os basqueteiros, com as pessoas que gostam e querem fazer basquete, para nós fazermos um plano para conseguirmos galgar de novo o posto que nos é devido, ou seja, estar abaixo apenas do futebol.
Como você pretende massificar a prática do basquete e torná-lo um produto rentável, com credibilidade e visibilidade?
Principalmente, nós temos de profissionalizar; se não profissionalizarmos, não tem como. Massificação, até que já há um trabalho sendo feito. O que já vem sendo bem feito, temos de manter e tentar ampliar. Uma massificação está sendo feita, modestamente. Queremos encontrar parceiros que nos ajudem a implementar ainda mais essa massificação. Mas tudo passa por uma profissionalização; sem isso, não temos como desenvolver.
Explique o modelo de gestão que você pretende adotar.
Principalmente envolvendo as federações e, em outro segmento, os clubes. As federações são quem faz basquete no Brasil, e nós precisamos apoiá-las e dar condições para que elas possam desenvolver o basquete em todos os seus estados. E depois, num segundo plano, nós vamos chamar os clubes, que são os divulgadores do nosso basquete, principalmente o basquete adulto masculino, e nós também faremos um estudo em conjunto. Essa liga (LNB) que está aí é uma ótima coisa que aconteceu. Temos de dar todo o apoio a ela. E tem outra coisa, nós temos de ver também o feminino, ele não pode ficar atrás, pois o feminino é o naipe que nos traz medalha, é o naipe em que vamos participar de Olimpíada, então não podemos esquecer do feminino. Muito pelo contrário, nós temos de dar uma igualdade de condições ao feminino como damos para o masculino.
Como será a relação entre a CBB e a Liga Nacional de Basquete?
A mais saudável possível. Nós temos de apoiar. Quem sabe de suas dificuldades são os clubes, não é a CBB, então temos de apoiá-los sempre, dando condições de que possam desenvolver mais do que estão fazendo. Já está ótimo o que estão fazendo, o campeonato está com visibilidade, todos os clubes estão envolvidos, os clubes paulistas estão participando, então daqui só temos a progredir. E depois, estudarmos uma maneira de envolver o pessoal do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Pelo feminino, o que pode ser feito? O que você está vendo ser feito errado e acha que pode ser feito melhor?
Errado eu não digo, nós partimos da premissa seguinte: nós vamos tentar fazer melhor, chamando o pessoal que entende de feminino, que está envolvido. Uma coisa que nós queremos resgatar, por exemplo: a Hortência, quer nome maior hoje em dia no basquete feminino que ela? Que a Paula, a Janeth? Vamos chamá-las! Vamos ver no que elas podem nos ajudar, se elas têm vontade de colaborar, de alavancar ainda mais o basquete feminino. É isso que vamos fazer.
Essa é uma das críticas sobre a administração Grego, o afastamento de figuras importantes do basquete, os ex-jogadores consagrados (os campeões mundiais, a Hortência e as jogadoras da geração 94, os caras do Pan de Indianápolis). Como você pretende dar mais participação a estes ex-atletas no processo de gestão?
Vamos chamá-los, fazer um simpósio, não só do feminino, mas do masculino também. Os campeões mundiais que estão aí têm uma bagagem tremenda que pode ser muito útil. Não quer dizer que eles vão participar da administração, mas eles vão opinar, vão dar sugestões, e nós vamos tentar compilar isso tudo.
Qual será o papel de José Carlos Brunoro em sua administração?
O Brunoro vai cuidar do departamento de marketing, e algumas vezes ele também poderá dar uma consultoria, mas o forte dele é o marketing.
Qual o modelo que pretende implantar para os campeonatos nacionais de base de maneira a não desperdiçar talentos? O que faria de diferente em relação à atual administração no trabalho de base?
Estamos propondo colocar as pessoas certas nos lugares certos, e com certeza o lugar do presidente não será no departamento técnico. Nós vamos procurar um profissional para gerir o departamento técnico. Claro que o presidente vai ter o seu conhecimento, vai dar o seu aval, mas nós vamos procurar as pessoas que entendam de basquete, e que possam programar, ou modificar, ou mesmo continuar, ou ampliar o modelo que estamos aí atualmente. Mas te digo o seguinte: o departamento técnico vai ter uma pessoa capaz.
Muito se reclama dos fundamentos precários de nossos jogadores e de uma suposta falta de atualização dos treinadores brasileiros, que está prejudicando a formação de nossas próximas gerações. Há muito tempo se cobra a formação de uma Escola Nacional de Técnicos. Esta é uma de suas metas? Como tornar este desejo em realidade?
Isso é importantíssimo, até porque hoje em dia temos um técnico estrangeiro. Nós temos técnicos capazes. Essa escola de técnicos é importantíssima e já há um embrião disso na atual administração. Vamos ver como é, vamos chamar, tem gente muito importante e capaz que quer dar sua colaboração na escola de técnicos. Vamos chamar os técnicos e ver como podemos fazer isso.
Você planeja algum programa de intercâmbio para os treinadores brasileiros em equipes europeias ou americanas?
Isso é parte técnica, mas com certeza, nós temos que ter isso. Um técnico nosso tem que ter uma visão ampla do que está acontecendo, tecnicamente, em todo o mundo. O caminho é esse. Ou vai um técnico para fazer estágio na Espanha ou onde o departamento técnico acha melhor, ou então se traz um técnico aqui para fazer clínicas, passar um tempo aqui entrosado com nossos técnicos para passar essa visão.
Moncho Monsalve e Paulo Bassul continuam como técnicos da Seleção adulta se você for eleito, ou você tem outros nomes em mente?
Nós não vamos mexer em nada agora, até porque tem uma Copa América em agosto, a masculina, no México, e tem outra em Cuiabá, feminina, em setembro. Seria uma temeridade nós mexermos naquilo que já está sendo programado e executado, visando esses dois importantíssimos campeonatos. Até uma segunda ordem ou segunda visão, Moncho Monsalve e Paulinho Bassul continuam.
Você diz romper com o continuísmo, mas muito se reclama pela comunidade basqueteira sobre sua associação de 12 anos com Grego. Como você responde à desconfiança em relação à sua orientação?
Eu acho que essa desconfiança já não existe mais, dado que lá no início se dizia que nada mais seria que um acerto, que perto da eleição nós abriríamos mão e o Grego seria reeleito. Eu fiquei 12 anos junto com o Grego. Aprendi muita coisa e vi que muita coisa está… Não é que esteja errada, mas que pode ser modificada para o bem do basquete. A atual administração está lá há 12 anos; naturalmente, tem esse desgaste. A gente precisa dar uma sacudida. Vamos botar sangue novo. Outra coisa, é uma administração essencialmente centralizadora; nós queremos abrir isso. Vamos formar conselhos consultivos com as federações, vamos chamar esse pessoal que é do basquete e entende do basquete para conversarmos, e formatarmos uma grande administração.
Por que você decidiu romper com Grego?
Nós vimos que muitas coisas não tinham o desenvolvimento e não têm uma certa perspectiva dada a centralização. A CBB hoje é gerida por só duas pessoas: o Grego e o departamento técnico. Para uma entidade da dimensão que é a Confederação Brasileira de Basketball, que rege todo o basquete nacional, não tem como. Eu sempre digo: a Confederação não desenvolveu; ela inchou, e não tem mais como inchar, senão explode, então ela tem que se desenvolver. É isso que estamos propondo, um desenvolvimento maior, um desenvolvimento dentro do profissionalismo.
Você disse ser contra reeleições indefinidas, mas muitos trazem à tona o fato de você estar à frente da Federação Gaúcha há 15 anos. Por que o público deve esperar que seja diferente na CBB?
As federações são uma outra conotação. Posso falar pela minha federação; as outras, não sei. Na minha federação, estou à frente porque ninguém queria! Agora mesmo, com a minha candidatura, surgiram dois grupos para concorrer à eleição. O que eu fiz: chamei os dois e disse, “Vocês se acertem, que eu estou fora. Qualquer resultado que for a eleição, eu estou fora. Agora, tratem vocês de tocarem o basquete gaúcho, que bom que tenha gente que queira trabalhar”. No Rio Grande do Sul, eu sempre fui reeleito por aclamação, não tinha gente, ninguém queria trabalhar… Agora não, graças a Deus surgiram dois grupos, se bem que alguns integrantes de um segundo grupo já desistiram. Viram que a coisa não é fácil, é pouco rentável para a pessoa do presidente, cada um tem a sua profissão e acha que lá ganha mais. Eu, por exemplo, sou empresário, tenho lojas e sou aposentado, então tenho esse tempo disponível.
Agora, na CBB, pretendemos implantar somente uma reeleição. Isso que vamos propor de mudança no estatuto, e vamos propor também uma vice-presidência eleita, não indicada. O estatuto da CBB, atualmente, é um excrecência, não tem vice-presidente eleito, ele é nomeado pelo presidente, e isso não pode acontecer. Todas as federações nacionais têm vice-presidentes eleitos, e na CBB faremos isso também.
Falando em desistências, o Toni Chakmati vem com uma campanha que está por baixo (NOTA DO EDITOR: pouco depois desta entrevista, Chakmati anunciou oficialmente sua desistência da eleição). Vocês têm conversas para uma possível associação, têm alguma aproximação em vista disso?
Sim, nós temos conversado muito, e até porque o Toni Chakmati também é oposição, e as oposições são convergentes, não são divergentes. Tenho certeza que, em mais uma semana ou 10 dias, nós vamos conseguir uma integração entre as duas chapas.
Com quantos votos de presidentes de federação você conta hoje?
Nós contamos, das três reuniões que nós fizemos, nós fechamos com 14, mas até a eleição, vamos fechar com 18, com certeza.
Como será a relação da CBB com os atletas convocados para a Seleção Brasileira?? Haverá uma central de comunicação com os jogadores mantendo contato durante o ano? Como será diferente da atual administração?
Já há uma aproximação da atual administração com os jogadores que estão lá fora. Já está bem diferente daquele ambiente que foi na convocação anterior. Ontem (domingo 12/4) mesmo, eu vi uma entrevista do (Anderson) Varejão dizendo que, ao terminar o campeonato da NBA, ele se apresenta aqui. O nosso papel, quando formos eleitos, vai ser ampliar isso e dar as condições que eles acham que tem de ter, que foi uma grande divergência que houve com a atual administração. Eles propunham algum tipo de organização e, no entendimento deles, a atual organização não dava isso. Nós queremos chamá-los e perguntar o que está faltando, para eles se integrarem e proporcionarem esse desejo de todos os basqueteiros de se classificar às Olimpíadas.
Como você vai lidar com os pagamentos de seguro para as liberações de jogadores da NBA e Europa?
Profissionalmente. Tem que se ver o que se exige e nós temos de fazer o seguro, sem dúvida nenhuma. Mas da NBA, sempre foi feito o seguro, porque se não paga o seguro, eles não liberam os meninos. Há uma divergência - que eu não sei mesmo trabalhando lá dentro, não tinha conhecimento porque minha área era outra, não era área técnica - há algum problema de seguro com as meninas, as atletas convocadas que não tinham seguro. Mas isso é facílimo de resolver, é só chegar numa seguradora ou num entendido, e ver como a gente pode fazer para elas serem cobertas.
Você está de olho no que vem sendo feito pela Liga Nordeste de Basquete? Acha que o exemplo dela pode ser aplicado às demais regiões do país, e como integrá-la ao que vem sendo realizado no basquete do resto do país?
Nós tivemos uma reunião com o Kouros (Monadjeni), presidente da LNB, e manifestamos a ele - e foi até uma conjuminação de ideias - de que nós temos de criar também uma liga Norte-Nordeste para integrá-las aqui. Essa Liga Nordeste, eu não conheço a fundo, mas pelo que eu vejo, ela tem uma boa representatividade e uma boa organização. A CBB não vai interferir nisso sem primeiro a atual liga chegar e nos chamar para compor junto, porque nós achamos que é um assunto da atual liga. Se eles tiverem interesse de ampliar a liga ao Norte/Nordeste, nós vamos dar apoio. Se eles disserem que não interessa, aí sim nós vamos entrar. Uma coisa é certa: vai haver liga no Norte/Nordeste.
Fale mais sobre suas principais realizações durante sua gestão na FGB.
Nós estamos lá desde 1994. Nosso forte lá são as categorias de base. Quando eu assumi lá, em 94, foi o último ano que uma equipe adulta ganhou um campeonato brasileiro, que foi o Corinthians de Santa Cruz, com o Ary Vidal. Depois, as equipes adultas nunca galgaram ao posto de campeão. Nós nos dedicamos mais à base, e isso vai bem, haja visto todos os atletas que a gente põe no cenário nacional. Nós temos um forte lá que já vai para 13 anos, que é o Sul-Americano de Mini, Mirim e Infantil. São 15 dias, na última quinzena de julho, que na primeira semana vão atletas de 10 a 13 anos, ambos os naipes, e na segunda semana, atletas de 14 e 15 anos, ambos os naipes. Nós conseguimos reunir, nesses 15 dias, uma base de 750 crianças. Vem equipes de todo o Brasil, até de Manaus. Recife, Minas Gerais, principalmente São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Uruguai, Argentina e Paraguai. Nós fizemos um grande campeonato lá e isso tem um impulso muito grande no nosso basquete de base no RS.
Quando nós tínhamos os bingos - que infelizmente, para nós, acabou, mas lá nós tínhamos uma receita, um aporte muito bom, onde nós podíamos planejar as nossas equipes e seleções. Enquanto existiram os bingos, nós éramos o segundo no ranking nacional, só perdíamos para São Paulo. Fomos campeões brasileiros… Com o investimento do bingo, nós podíamos organizar uma seleção. Quando terminou o bingo, nós ficamos sem apoio algum. O governo gaúcho, tanto estadual quanto municipal, não tem o perfil de ajudar não só o basquete, mas não tem o perfil de ajudar o esporte amador. Lá, é tudo dirigido para a dupla Gre-Nal. É um chorinho, mas vale a pena dizer. Até o banco oficial patrocina a dupla Gre-Nal. As outras federações ficam relegadas ao segundo plano e elas se mantêm graças ao esforço de seus presidentes; é assim com o vôlei, com o judô, com a natação, com o futsal… O futsal ainda tem um mecenas, em Garibaldi, o (Clóvis) Tramontina, essa potência que é a Tramontina, e ainda bem que o futsal tem uma pessoa como essa para apoiar.
Mas nós outros não, e fazemos o que podemos. Os clubes lá são muito sacrificados, porque arcam com tudo sozinhos. Se não são os clubes, o basquete gaúcho teria uma série de dificuldades. Sorte que nós temos os clubes, agora nós ampliamos; abrimos há cinco anos para os colégios particulares, que também tem um trabalho muito bom na base, tanto masculino quanto feminino. E demos incentivo às ligas. Lá tem liga em Passo Fundo, estamos incentivando uma liga em Pelotas, e essas ligas também fazem basquete, isso que nos interessa.
Falando em liga: fora da liga NBB, o basquete masculino está parado no resto do país. A solução seria isso, ligas para os times menores que não terão acesso à LNB?
Na minha opinião sim, mas veja bem, não é que o basquete esteja parado; o basquete não tem divulgação. Até entendemos; como o produto está fraco, não há uma exposição, mas olha, se joga basquete em todo o Brasil. Se você for a Manaus, lá tem campeonato. Se você for ao Amapá, lá eles fazem um campeonato rápido com gente de todo o Brasil, bastante equipe. Nós precisamos incentivar esse pessoal e eu sou a favor das ligas. A Confederação tem que cuidar das seleções brasileiras, e as ligas cuidam dos jogos, da divulgação, da exposição, de seus clubes… Não sei se meus colegas de federação concordam com isso. Eu, no Rio Grande do Sul, dou todo o apoio às ligas, porque acho que, pelo menos no RS, o caminho da massificação e da projeção do basquete são as ligas.
Qual sua posição quanto aos recursos da Lei Agnelo-Piva? Ela deve ir para os clubes formadores ou para as federações?
Isso é muito difícil, porque clube formador… Vamos exemplificar na minha terra, a Sogipa. Saiu um atleta de lá com 12, 13 anos para o Pinheiros, em São Paulo, e é lá que ele explode. Quem foi o clube formador? Foi a Sogipa, que iniciou, ou foi o Pinheiros? Acho que os recursos da Lei Agnelo-Piva tem que ser direcionados às federações, e estas, dentro de um critério rígido, têm de aplicar no que se propõe. Vai ser aplicado nas categorias de base, nas ajudas de atletas… Tem N planos sobre isso, N projetos. O que falta só é um direcionamento e alguém que coordene isso. Falando sempre na federação gaúcha, onde tenho domínio: se me mandam uma verba, digamos, R$ 50 mil, vai se chamar os clubes e dizer, “Nós temos R$ 50 mil, onde vamos aplicar?” E aí, os clubes vão decidir. Naquela época de vaca gorda, quando tínhamos patrocínio, nós chamávamos os clubes. Lá no Sul, foi feito o seguinte, era proporcional ao número de equipes que cada clube tinha. Um clube tinha duas categorias, levava um valor X; outro clube já tinha 14 categorias, levava valor Y. Era proporcional. Isso sempre deu certo, pelo menos no Sul. Não sei se aqui poderia ser feito isso. Esse dinheiro da Lei Agnelo-Piva não depende de nós, porque quem vai decidir isso é o COB e o Governo. Cabe a nós nos adaptarmos.
Você concorda com a divisão do repasse das verbas da Lei Agnelo-Piva por meritocracia, resultado olímpico?
Agora, eu não concordaria porque não fomos às Olimpíadas, embora participemos com o feminino. Se depender das confederações decidirem, acho que cabe uma conversa, uma tratativa, um desenvolvimento de ideias para ver o que é melhor: se é distribuir proporcionalmente ou ficar como está.
Você pode explicar o episódio da assembleia geral extraordinária que resultou na sua última reeleição na FGB?
Como nós éramos candidatos e surgiram essas duas chapas, duas equipes filiadas, que foram o Corinthians de Santa Maria e o Caxias Basquete, propuseram que a eleição fosse feita depois da eleição da CBB, porque eles teriam tempo de conversar com esse pessoal que vai entrar. Eles estavam acostumados com a nossa gestão. Nossa gestão sempre foi aberta; os campeonatos do Rio Grande do Sul são organizados pelos clubes, eles que dizem como querem jogar. Nós só vamos lá coordenar a reunião técnica. São eles que dizem, “vamos fazer isso, fazer aquilo, jogar assim, vamos jogar assado”. É perfeitamente entendível, porque são eles que arcam com as despesas, a federação não entra com nada. Esses dois clubes propuseram que fizéssemos a eleição depois da CBB, até para eles terem tempo de conhecer as duas chapas, seus planos, e ver se eu iria desistir ou não ia.
Para isso, precisa ter uma assembleia geral, é estatutário, porque isso exige uma modificação de estatuto, que dizia que a eleição tinha de ser em janeiro. Então nós temos de mudar o estatuto para botar a eleição para junho, como foi feito, mas para isso precisa ter uma assembleia geral e um determinado número de filiados, porque senão não adianta. Nós tínhamos 21 filiados; se fosse só dois ou três, não tinha como fazer isso. Então o que se faz: em qualquer entidade, isso é normal. Por exemplo, o clube lá de Livramento, que são quase 600km da capital, iria lá à assembleia para, em uma hora, porque não dura mais do que isso, é perguntar “Vamos fazer a prorrogação? Quem estiver de acordo, fica sentado; quem não estiver de acordo, levanta”. Então eles dizem que vão mandar uma procuração. Ótimo, então eu tenho que dar um nome de alguma pessoa para representar o clube. Isso é uma coisa legal, se não fosse legal, o cartório não aceitava!
O que nós fizemos: quais são as pessoas que estão mais à disposição? Era dia de semana. Nós convidamos alguns árbitros para serem representantes, convidamos dois advogados, tinha técnicos; o Corinthians de Santa Cruz mesmo não mandou o presidente ou o diretor, mandou o técnico, com uma procuração. São os clubes que mandam. Nós não impusemos, “Tem que mandar procuração para fulano!” Foram os clubes que disseram, “Não posso ir”, tu não podes vir? Então qual é o procurador? “Me dá o nome aí que eu mando a procuração”. Não tem polêmica nenhuma. Eram 21 clubes; 19 foram a favor da prorrogação, só dois não foram, e desses dois, que falaram da procuração de árbitros, por paradoxal que seja, um deles era procuração, foi representante do clube que levou uma procuração, fez a mesma coisa! Então é legal. Não tem nenhuma questão inibidora, ou desconforto em se falar nisso, porque se não fosse legal, a gente não conseguia registrar em cartório a ata, nem a operação estatutária.
A ABASU, presidida por Grego, deve ser admitida em breve pela Fiba Américas como entidade responsável pelo basquete sul-americano. Como será a relação da CBB com a nova organização?
A mais colaborativa possível. Eu entendo que a eleição é dia 4 de maio; qualquer resultado que for, nós temos que pensar sempre no basquete. Se nós ganharmos, vamos dar todo o apoio a ABASU com o Grego dirigindo, até porque já faz algum tempo que nós não temos mais esse cargo de presidente da antiga Sul-Americana, sempre foi dado aos argentinos. Agora é um brasileiro, temos que dar toda a força e colaboração ao Grego. Se nós perdermos a eleição, que eu acho difícil, nós também vamos dar todo o apoio à Confederação para ver se conseguimos tirar o basquete da estagnação. Mas, acho que tudo vai se arrumar direitinho: nós vamos ganhar a eleição, já temos gente, temos número suficiente para ganhar, e vamos dar apoio forte ao Grego na ABASU para que o Brasil volte a despontar novamente como um líder do basquete sul-americano.
Deixe sua mensagem para a comunidade do basquete.
Estamos trabalhando com todo o interesse de que o basquete volte a ocupar o lugar que merece aqui no cenário nacional. Nós estamos imbuídos de alavancar, de puxar, de unir todos os basqueteiros que gostam da modalidade e queiram trabalhar. Nós estamos imbuídos de profissionalizar essa modalidade, porque entendemos que é o único caminho para que a gente possa, de novo, ter a projeção que tínhamos antes. É o único caminho que podemos almejar uma conquista de vaga nas Olimpíadas. Nós estamos trabahando para isso, e não podemos fazer isso sozinhos, de jeito nenhum. Já me disseram assim: “o gaúcho não tem condições de gerir uma confederação”. Eu concordo com eles, não tenho, mas se eu for sozinho. Se é para ficar como está o modelo atual, eu tenho mais do que sobras de condições de gerir, mas pelo que se propõe e pelo que o basquete exige, hoje, eu não teria condições de administrar sozinho. Nós precisamos de parceria, de um suporte como é em São Paulo, onde está o maior basquete do Brasil, nós precisamos de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Amazonas… Precisamos de uma integração nacional, sejam eles oposição à nossa chapa ou não. Nós acreditamos que dia 4 de maio, às 15h, como está tudo resolvido, isso daí termina e todos nós devemos encarar o desenvolvimento do basquete. temos de trabalhar em conjunto. Vamos deixar essas questiuncas de eleição para daqui a quatro anos.
Quais são os próximos passos da sua campanha?
Nós temos uma reunião amanhã (terça-feira) em Recife, de lá vamos a Campo Grande, onde temos uma reunião com o Senador Delcídio (Amaral). De Campo Grande retornamos ao Ceará, onde daremos uma palestra aos clubes filiados, e do Ceará devemos ir ao Maranhão, que mesmo sendo reduto da oposição, estamos indo para divulgar nosso plano, pois eles também tem direito a tomarem conhecimento do que estamos propondo.
Adriano Albuquerque Está no BasketBrasil desde 2005 e escreve sobre basquete em geral.
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Fonte: BasketBrasil
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